segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Mito da Caverna


Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um altomuroEntre o muro e o chão da caverna há uma fresta por ondepassa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna naobscuridade quase completaDesde o nascimento, geração apósgeraçãoseres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem locomover-se,forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca tervisto o mundo exterior nem a luz do Solsem jamais ter efetivamentevisto uns aos outros nem a si mesmosmas apenas sombras dosoutros e de si mesmos porque estão no escuro e imobilizados.Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo queilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas quese passam do lado de fora sejam pro­jetadas como sombras nasparedes do fundo da caver­na. Do lado de forapessoas passam conversando e car­regando nos ombros figuras ou imagens dehomensmulheres e animais cujas sombras também são projeta­das na parede da cavernacomo num teatro de fanto­ches. Osprisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons desuas falas e as imagens que trans­portam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seresvivos que se movem e falam.Os prisioneiros se comunicam, dandonome às coisas que julgam ver (sem vê-Ias realmentepois estão na obs­curidade) e imaginam que o que escutam, e que não sabem quesão sons vindos de forasão as vozes das pró­prias sombras e nãodos homens cujas imagens estão projetadas na paredetambémimaginam que os sons produzidos pelos artefatos que esseshomens carregam nos ombros são vozes de seres reais.Qual é, pois. a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam sombras porrealidadetanto as sombras das coi­sas e dos homens exteriorescomo as sombras dos artefa­tos fabricados por eles. Essa confusão,porémnão tem co­mo causa a natureza dos prisioneiros e sim ascondições adversas em que se encontram. Que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria?Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-Ia. Fabrica um instru­mento com o qual quebra os grilhões. De início, move a ca­beçadepois o corpo todo; a seguiravança nadireção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um cami­nho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, ficatotalmente cego pela luminosidade do Solcom a qual seus olhosnão estão acostumados. Enche-se de dor por causa dosmovimentos que seu corpo realiza pela primei­ra vez e peloofuscamento de seus olhos sob a luz externamuito mais forte doque o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidadeporque será obri­gado a decidir onde  encontra a realidade: no que ago­ra ou nas sombras em que sempre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luzporque seus olhos não con­seguem vercom nitidez as coisas iluminadas. Seu primei­ro impulso é o deretornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, atraído pelaescuridãoque lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisaaprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar acaverna on­de tudo lhe é familiar e conhecido.Sentindo-se semdisposição para regressar à caverna por causa da rudeza docaminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade definalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estiveraprisioneiro a vi­da toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Dora­vante, desejará ficar longe da caverna para sempre e luta­rácom todas as suas forças para jamais regressar a ela. No entanto,não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim,toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio paracontar aos demais o que viu e con­vencê-los a se libertaremtambém.Que lhe acontece nesse retorno? Os demais prisioneiroszombam dele, não acreditando em suas palavras e, se nãoconseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam faze-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da cavernacertamente aca­bam por matá-lo. Mas,quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais,também decidir sair da caverna rumo à realidade. O que é acaverna? O mundo de aparências em que vi­vemos. Que são assombras projetadas no fundo? As coi­sas que percebemos. Que sãoos grilhões e as correntesNossos preconceitos e opiniõesnossacrença de que o que estamos percebendo é a realidadeQuem é oprisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luzdo Sol? A luz da verdade. O quê é o mundo iluminado pelo sol daverdade? A realidadeQual o instrumento que liberta o prisioneirorebelde e com o qual ele deseja libertar os ou­tros prisioneirosFilosofia.

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